quinta-feira, 29 de setembro de 2005

Cruzamento

O ônibus vinha chutado pela Avenida 17 de Agosto. Passava um, dois, dez sinais amarelos bem no minutinho de virar vermelho, o apito de controle de velocidade não parava de ressoar, idosos eram arremessados de um lado para o outro dentro do coletivo, o trânsito estavam sombriamente livre e em qualquer curva mais acentuada algum homem de voz grossa e dedos pequenos soltava o clássico comentário: "essa porra de motorista acha que tá carregando boi!". Foi então que em um dos sinais amarelos-quase-vermelhos, um carro de gente fina e bacana partiu antes do verde e atravessou a 17 de Agosto bem na frente do coletivo ensandecido. O ônibus freou, o carro acelerou, e enquanto era idoso para tudo que é lado, livros dos estudantes voando pelos ares, a cobradora caindo da cadeira, o homem de voz grossa e dedos pequenos segurando com todas as suas forças, todos ouviram aqueles dois segundos do som de pneus trincados que antecipam o 'puft' final. O 'puft' final veio, pois o carro ao acelerar com tudo, conseguiu escapar do ônibus, mas terminou batendo em outro carro que vinha na mão contrária à do ônibus, veículo que também tinha atravessado um sinal que acabara de fechar. Esse outro carro, por sua vez, bateu numa moto; a moto não bateu em ninguém, mas o motoqueiro terminou machucado, estava com o capacete em um dos braços e falava no celular tentando justificar o atrasado para a amante que o esperava na Praça 13 de maio. Só deixou de chama-lo de desgraçado quando soube do ocorrido. Todos recompostos dentro do ônibus, o motorista afinal tinha conseguido frear a tempo, então satisfeito com seu ato de heroísmo seguiu adiante, chutadíssimo do mesmo jeito.

Nenhum comentário: