terça-feira, 22 de agosto de 2006

Caetano Veloso, 1968


(Publicado originalmente no Overmundo)

"Você está por fora, Caetano. Veja o programa do Roberto Carlos. Ele é que é forte. O resto está ficando um negócio chato, tão chato que prefiro cantar músicas antigas. Largue esse violão e cante com uma guitarra. O violão é muito pouco para você! Escolha um instrumento que tenha o mesmo grito, que tenha o seu gesto".

De Maria Bethânia para seu irmão Caetano Veloso, ano de 1967 (CALADO, Carlos, Tropicália: A história de uma revolução musical, Editora 34). Citação encontrada na internet e obviamente de veracidade questionável. Não cabe a mim investigar nada e a preguiça também não colabora. Ficamos na boa dúvida, por fim.


Sobre o Álbum

Eu não sei bem o que Caetano pensa hoje sobre esse disco, com uma carreira tão extensa deve ser difícil se ater em particular a um único objeto antigo, nem sei direito o que ele pensava quando o lançou em janeiro de 1968. Já ouvi dizer ou li em algum lugar sem importância, que foi, para ele, o mais próximo que podia produzir a partir do que foi sugerido em “Terra em Transe” (1967), de Glauber Rocha sem perder de vista todas as reverberações emitidas ao mundo da arte por Hélio Oiticica. Provavelmente também foi a condensação mais próxima, em termos de inventividade e postura, do que vinha sendo mostrado, entre outros, pelo “Sgt Peppers” (1967) e Revolver (1966), dos Beatles, pelo “Are you experienced?” (1967), de Jimi Hendrix, pelo “Piper at Gates of Dawn” (1967), do Pink Floyd, pelo "Sunshine Superman" (1966), do Donovan e pelo “Pet Sounds” (1966), dos Beach Boys. A aproximação entre distintos estilos musicais, colocando instrumentos orientais unidos a guitarras elétricas a todo vapor influenciaram naturalmente a nova estética adotada por Caetano e pelos tropicalistas (em especial Os Mutantes), se interligando e sentando ao lado, no campo das referências, da bandinha de pífano de Caruaru, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Vicente Celestino e toda cultura popular brasileira. As cabeças estavam realmente piradas, o rock se legitimava como arte, as vielas entre regionalismo e universalismo devoravam umas as outras: surgia a vontade de misturar tudo, de mesclar isso com aquilo, de se deixar melar pelas mais diversas influências. As idéias de Oswald de Andrade estavam mais atuantes do que nunca. Antropofagia era a palavra e a atitude da vez, mas os nomes eram outros: ao invés de Oswald, Mário de Andrade, Pagu ou Tarsila do Amaral, tínhamos Gilberto Gil, Torquato Neto, Gal Costa, Rogério Duprat e Tom Zé. Tínhamos Caetano e toda a caretice de “Domingo”, seu primeiro disco gravado juntamente com Gal Costa, podia agora ser esquecida. Aqui temos outro Caetano. Nada de violãozinho na mão brincando de João Gilberto e cantoria comportada, bem modada e retrógrada, onde todas as canções soam como uma só. Nada disso. Aqui temos a Tropicália, a brincadeira, o desbunde. Nada de Bossa Nova, nada de Jovem Guarda. Ou melhor, um pouco de cada coisa, tudo misturado num acorde dissonante. E como tudo que é realmente novo choca simplesmente pela falta de ferramentas para explicar, a Tropicália não precisa de adornos ou caraminguás, faz postura por ela mesma, não precisa de idiota algum para dizer isso.

Ainda assim, venho aqui para dizer e voltando ao que não sei, também não sei o que os críticos musicais da época escreveram e falaram sobre esse disco, afinal são poucos os detalhes históricos que conseguem perpassar os anos, sem serem esquecidos em algum dado momento. Provavelmente os mais conservadores devem ter criticado levando em conta o sentido negativo da palavra. Devem ter se chocado facilmente, acostumados a escrever dentro das expectativas do que era produzido no Brasil até então. Muitos dos jovens ditos engajados também não viram a Tropicália com bons olhos. Associavam o Rock and Roll com imperialismo e não aceitavam sua introdução na música popular brasileira. Quase armoriais de tão púdicos (levando em conta que Ariano Suassuna, em sua aula-espetáculo, sempre diz que os jovens que empunham guitarras elétricas podem passar pra metralhadoras sem nem se darem conta). Hoje ninguém se choca mais e os críticos terminam por ser excessivamente ufanistas e... apenas isso, o que é mais perigoso. Não os levem a sério e falo sobre mim também. Somos um bando de pretensiosos sem noção alguma. Mas, continuamos mesmo assim. Na verdade, a maioria das pessoas em 1968 não deve ter entendido nada. Nada do que fazia Caetano, nem Duprat, nem Os Mutantes, nem Tom Zé. Assim como não entendiam nada do que Glauber Rocha queria dizer. Até hoje, muitos não entendem. Manter um nível intelectual dentro de uma sociedade como a brasileira termina por se tornar elitista invariavelmente. Foram poucos os que conseguiram romper essa barreira e se tornar “cabeça” e popular ao mesmo tempo. Chico Buarque que o diga. Mas isso não importa. O artista não tem nada a ver com isso. Esse disco, intitulado só como “Caetano Veloso” mostra para o que veio desde a capa produzida pelo artista gráfico Rogério Duarte. Seria um quadro qualquer, extremamente colorido, de uma mulher seminua e um dragão, senão fosse pelo rosto de abuso de Caetano que surge quase como uma colagem em meio a isso, colagem que diante de nossos olhos para o vinil se comporta como espelho. É o primeiro registro tropicalista. Lançado meses antes do disco-manisfesto “Tropicália ou Panis et Circenses”. Meses antes de Gilberto Gil ou Tom Zé ou Duprat lançarem seus também discos tropicalistas. Caetano estava um passo a frente, estava com a cabeça afundada dentro da nova estética ainda que muitos digam que ele simplesmente aproveitou o momento histórico e que a Tropicália aconteceria do mesmo jeito com ou sem sua presença. Nunca iremos saber, nunca iremos chegar em um denominador comum partindo dessa discussão infundada e essa vibe morte do autor a gente pode discutir depois. Esse pode não ser o disco mais tropicalista, mas é o primeiro e isso deve ter algum valor histórico. É dele que emanam as sugestões e intervenções que viriam a se concretizar posteriormente nas mãos e vozes dos mais diversos artistas. É como se fosse a fonte brasileira que dá os primeiros suprimentos para o surgimento de uma floresta tropical. Depois a fonte pode até ser esquecida, afinal a floresta já tem vida própria e produz novas fontes muito mais interessantes. Sem dúvida, esse não é o melhor, nem o disco mais tropicalista, mas é o primeiro e isso deve ter algum valor histórico.


Sobre as músicas

1. Tropicália (Caetano Veloso)
2. Clarice (Caetano Veloso e Capinam)
3. No dia que eu vim-me embora (Caetano Veloso e Gilberto Gil)
4. Alegria, alegria (Caetano Veloso)
5. Onde andarás (Caetano Veloso e Ferreira Gullar)
6. Anunciação (Caetano Veloso e Rogério Duarte)
7. Superbacana (Caetano Veloso)
8. Paisagem útil (Caetano Veloso)
9. Clara (Caetano Veloso)
10. Soy loco por ti América (Gilberto Gil, Capinam e Torquato Neto)
11. Ave Maria (Caetano Veloso)
12. Eles (Caetano Veloso e Gilberto Gil)

Quando Pero Vaz de Caminha descobriu que as terras brasileiras eram férteis, escreveu uma carta ao rei: Tudo que nela se planta, tudo cresce e floresce. E o Gaus da época gravou...” Tropicália (a música) começa com a improvisação do baterista Dirceu fazendo uma alusão à carta de Pero Vaz de Caminha e alguns sons bem estranhos acompanham sua jornada. E só para constar, ‘Gaus’ era o técnico de som do estúdio onde o disco estava sendo gravado. Essa música não poderia começar de outra maneira, afinal no jogo de referências a que se propõe, o ponto de partida só poderia ser este. E esse é um disco muito referencial. Sejam os heróis sob uma base de ironia em “Superbacana” ou a pseudo-imitação da pronúncia vocal de Nelson Gonçalves em “Onde Andarás”. Obviamente só sei disso porque li em algum lugar anteriormente, afinal eu nunca ia saber que Caetano estava fazendo referência à pronúncia vocal de Nelson Gonçalves em qualquer música que fosse. Faça-me favor. Eu só noto uma pronúncia vocal estranha de fato. Por sinal, uma música de Ferreira Gullar e Caetano Veloso, em teoria, só poderia chamar a atenção. Só em teoria mesmo, porque “Onde andarás” passa quase que despercebida. Quando não é passada de propósito. E sinceramente não sei o que é pior. A música tem algo de sujo que atrapalha o entendimento da letra e convenhamos que a letra não é lá essas coisas. Mesmo que fosse uma música limpa, não íamos ter muito o que escutar. Falemos de outras músicas então. “Superbacana”, por exemplo. Essa é uma canção divertida pacas, uma metralhadora referencial e imagética, que só tem como problema o fato de ser curta demais. É a mais curta de todo disco. Tudo bem que algumas más línguas dizem que enjoam fácil dela. Eu, particularmente, acho difícil de enjoar. E eu poderia cair naquele trocadilho péssimo e chamar a música de superbacana, mas eu resolvi me conter dessa vez. O humor refinado desses versos não merecem isso. Nem eu. Nem vocês. Vocês eu não sei.

Voltando a Tropicália, é importante dizer que essa canção, assim como Alegria, Alegria, possui uma nostalgia inerente a ela e maior do que podemos enxergar em um primeiro momento. Trata-se de uma nostalgia tão grande, e ao mesmo tempo tão melancólica, que atinge perfeitamente até os que não viveram a época em que tais músicas foram lançadas. É possível escutar os versos e sentir cada detalhe do final da década de sessenta; essas duas músicas, em especial, parecem conseguir recriar, reproduzir sozinhas todo o ano de 1968. E todo clima. Além de nos provocar uma saudade do que não vivemos, da geração o qual não fizemos parte, mas que ainda assim nos aproximamos naturalmente. Essas duas músicas não possuem todo teor político e dramático de Geraldo Vandré, ainda que possuam seu próprio tom quanto a posições políticas. Há uma leveza lançada através de imagens e idéias, uma atrás da outra, sem cessar. E talvez esse bombardeio não seja conseqüência apenas da estética das canções, mas sim do fato de sermos crias da Geração Videoclipe que transforma todos os sentidos em produtos imagéticos. Tropicália e Alegria, Alegria fazem uma incrível diferença no conceito (e na qualidade) do disco com um todo. Não só por serem os símbolos da estética recém nascida e já quase morta que Caetano buscava. Não só por isso. Essas duas músicas surgem como um desvio da esquerda presa a conservadorismos estéticos, ao mesmo tempo que se contrapõe à direita autoritária. Traça um caminho único, próprio. E talvez Caetano não tivesse noção disso até ser vaiado enquanto cantava “É Proibido Proibir” com Os Mutantes como banda de apoio, no III Festival Internacional da Canção.

Por outro lado, pra quem esperava que o disco tropicalista de Caetano fosse uma seqüência de músicas esteticamente coerentes às idéias do movimento e consequentemente sem coerência alguma, pode achar “Clarice” um pouco distante da proposta. Até Caetano achava para falar a verdade. Mas não se enganem. “Clarice” não é uma música despretensiosa como parece ser. A melodia carrega uma tristeza imensa, conta a história do recato, do pudor através da inocência de uma triste garota que termina por se despir. Tudo carrega uma melancolia e um mistério. A própria música brasileira estava se despindo naquele momento histórico. O Tropicalismo era isso, era a possibilidade de ficar nu. E foi o que Clarice fez. A outra mulher do disco é “Clara”. É uma música curta, que não me emociona, mas que obviamente reconheço o seu valor. Na verdade, gosto de alguns momentos, principalmente a troca vocal entre Gal e Caetano e algumas quebras de ritmo, mas a repetição de um mesmo nome várias vezes sempre me irritou. E com Claaaara, Claaaara, Claaaara não poderia ser diferente. Temos ainda Maria, em “Anunciação” e em “Ave Maria”. A primeira tem uma letra boa, realmente boa mas que terminou encaixada numa melodia de qualidade duvidosa. E novamente tem a repetição irritável várias e várias vezes: Maaariaaa, Maaariaaa. Já a segunda é o tipo de música que não muda a vida de ninguém, mas que tem uma melodia que me agrada por algum motivo o qual não saberia explicar direito. De qualquer maneira, não merece mais comentários. Vamos adiante. Falemos de “Soy loco por ti, América” agora. Não sei de onde surgiu meu abuso com essa música, provavelmente da abertura da novela, em especial porque fazia trilha de uma jovem que sonhava na América do norte. Só pode. É difícil uma música se tornar tema de novela e depois não se tornar amada e tocada por metade da nação e, consequentemente, odiada por mim. No meu mundo perfeito ninguém agüentaria escutá-la todo dia. E isso se aplica pra quem assiste e pra quem não assiste à novela. Porque invariavelmente alguém estará assistindo e invariavelmente você vai terminar escutando. E escutando. E escutando. E escutando. Caetano cantando não convence. Misturando espanhol com português fica mais tosco ainda. Essa música é brega. Brega. Brega até dizer basta e algumas pessoas ainda vêm dizer que é tropicalista pra burro, que é uma homenagem a Che Guevara que havia morrido no ano anterior, que proclama a revolução comunista na América Latina. Viva a América Latina, mas poupem-me. Está muito mais pra Carmem Miranda do que qualquer outra coisa. E que se dane Che Guevara, a pseudo-revolução e essa música. Não me importo, vamos adiante.

Na seqüência ilógica da minha cabeça surge “No dia em que eu vim-me embora”, uma canção meio autobiográfica que ultrapassa os limites da história pessoal de Caetano ou Gil. Da história pessoal do tal “eu-lírico” seja lá quem ele for. A autobiografia nesse caso é a biografia de meio mundo de pessoas. Não estou chamando de clichê, apenas de comum. É uma música que se sustenta no silêncio e no não-dito de seus personagens. A mãe, a irmã, o pai... o próprio Caetano que já não sabe o valor dos sonhos que sonha e não tem mais a certeza sobre os caminhos que escolhera a trilhar. E quantas vezes questionamos nossas atitudes enquanto as construíamos? Isso é o tipo de coisa que acontece o tempo todo. Vamos caminhando vagarosamente. “Paisagem Útil” é uma música interessante, parece dar todo tom de uma canção qualquer, até que mostra saídas criativas tanto na letra como no ritmo. No arame que os prende. É uma pintura impressionista e surrealista, pintada através de olhos incomuns, mas extremamente sensíveis. Há algo de surreal impresso numa realidade sugestiva, uma dança sem sentido de Monet com Salvador Dali. Por fim, temos a última música do disco: “Eles”. Trata-se do grande momento tropicalista. Não é tão famosa quanto às irmãs "Tropicália" e "Alegria, Alegria", mas segue a mesma estética e a leva ao ponto que precisa. Experimentação na medida. Crítica política na medida. Melodia na medida e Mutantes nos instrumentos pirando. E pirando. E pirando. Tem um clima sombrio, uma guitarra descompromissada e ótima; é um dos melhores momentos do disco e da estética tropicalista em si. Até na falta de rima a música se excede. Caetano não podia fechar melhor sua obra. E como ele mesmo diz: Os Mutantes são demais.

Documentação extra:

Contracapa do disco – Caetano Veloso

Que maravilhoso país o nosso, onde se pode contratar quarenta músicos para tocar ‘um’ uníssono.(Miles Davis, durante uma gravação).

Antes havia Orlando Silva & flautas e até mesmo no meio do meio dia. Antes havia os prados e os bosques na gravura dos meus olhos. Antes de ontem o céu estava muito azul e eu e ela passamos por baixo desse céu, ao mesmo tempo com medo dos cachorros e sem muita pressa de chegar do lado de lá.do lado de cá não resta quase ninguém. Apenas os sapatos polidos refletem os automóveis que, por sua vez, polidos, refletem os sapatos assim per omnia até que (por absoluta falta de vento) tudo sobe num redemoinho leve, me deixando entrever um resto de rosto ou outro, pedaços, amém. Marina sabe a história do pelicano etc. etc. o peito aberto e rasgado etc. etc. mas que nada: quando a gente não tem nenhuma necessidade de ir para os States não há mesmo mais esperança. Eu gostaria de fazer uma canção de protestos de estima e consideração, mas essa língua portuguesa me deixa rouco. Os acordes dissonantes já não bastam para cobrir nossas vergonhas, nossa nudez transatlântica. E, no entanto, Ele é um gênio: quem ousaria dedicar este disco a João Gilberto? Quantos anos você tem? Como é que você se chama, quando é que você me ama, onde é que vamos morar? Os automóveis parecem voar, os automóveis parecem voar por cima (mas mais alto que o Caravelle) dos telhados azuis de Lisboa, dos teus olhos, dos mais incríveis umbigos de todas as mulheres em transe, dos teus cabelos cortados mais curtos que os meus, meu amor, porque eu não quero, porque eu não devo explicar absolutamente nada.

P.S.: Gil, hoje não tem sopa na varanda de Maria.

Caetano Veloso, em 1968, no III Festival Internacional da Canção após ser vaiado, enquanto cantava "É Proibido Proibir":

Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada. Hoje não tem Fernando Pessoa. Eu hoje vim dizer aqui, que quem teve coragem de assumir a estrutura de festival, não com o medo que o senhor Chico de Assis pediu, mas com a coragem, quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê-la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém, foi Gilberto Gil e fui eu!

Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabem a quem? São iguais sabem a quem? Tem som no microfone? Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores! Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada. E por falar nisso, viva Cacilda Becker! Viva Cacilda Becker! Eu tinha me comprometido a dar esse viva aqui, não tem nada a ver com vocês. O problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira. O Maranhão apresentou, este ano, uma música com arranjo de charleston. Sabem o que foi? Foi a Gabriela do ano passado, que ele não teve coragem de, no ano passado, apresentar por ser americana. Mas eu e Gil já abrimos o caminho. O que é que vocês querem? Eu vim aqui para acabar com isso!

Eu quero dizer ao júri: me desclassifique. Eu não tenho nada a ver com isso. Nada a ver com isso. Gilberto Gil. Gilberto Gil está comigo, para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil. Acabar com tudo isso de uma vez. Nós só entramos no festival pra isso. Não é Gil? Não fingimos. Não fingimos aqui que desconhecemos o que seja festival, não. Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu? Eu só queria dizer isso, baby. Sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês? Se vocês forem... se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos! Me desclassifiquem junto com o Gil! Junto com ele, tá entendendo? E quanto a vocês... O júri é muito simpático, mas é incompetente.
Deus está solto!

Fora do tom, sem melodia. Como é júri? Não acertaram? Qualificaram a melodia de Gilberto Gil? Ficaram por fora. Gil fundiu a cuca de vocês, hein? É assim que eu quero ver.

Chega!

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