quinta-feira, 22 de maio de 2008

1 real que saiu caro


Across the Universe é sem dúvida a pior pedida para beatlemaníacos. Tirando o mais óbvio do mocinho se chamar Jude e da mocinha se chamar Lucy, o filme da Julie Taymor tenta inserir todas as referências possíveis aos Fab Four num curto espaço de 133 minutos. São 7 anos de larga produção artística e lendas mil resgatadas da pior forma. E claro que o Jude volta pra Lucy no final, inspirado por 'Hey Jude' cantada por um amigo no espelho de um bar. Depois ele é cercado de jovens, crianças do subúrbio e todos cantam juntos lá lá lá lá lá, lá lá lá, hey Jude. Piegas é pouco. Ok, os Beatles são bregas pra se fuder, mas não chegam nesse nível auto-ajuda contemporâneo da coisa. Pra piorar a forçada de barra, todos os personagens secundários se chamam Martha, Prudence, Sadie, Max (personagens de algumas canções) e quando não estão dublando as péssimas versões do quarteto como se tudo fizesse um sentido dentro da história, estão soltando frases aleatórias com alusões de toda espécie à banda. Poderia falar que faltou um recorte para fundamentar uma história de amor, a partir das canções dos Beatles, mas isso seria um elogio perto do que o filme se mostra. Faltou muito mais; faltou tipo tudo. Para mim, o argumento se torna suicida desde o momento que resolve colocar a referência como objetivo central da produção, não como um alicerce dentro de uma trama. Sim, Across the Universe é puramente a referência pela referência e depois pensamos na história. E não importa tanto (na verdade, não importa nada) a maneira como essa referência é posta, ou deveria dizer jogada dentro da história. É o ápice da referencialidade vazia que comumente associamos ao pós modernismo na universidade pós moderna. Não há senso algum de quando cabe uma música ou uma alusão dentro do contexto, tudo é lançado de uma só vez se sobrepondo e se sucedendo sem parar. Cansa, pois é cansa. Como sou do tipo louco pela banda, passei pelo menos 3 anos da minha vida apenas (sim, apenas) escutando ela, conheço todas as músicas, um monte de lendas, de detalhes sobre as capas, assisti aos filmes, li o Anthology, sei possíveis interpretações para as músicas, a inspiração, histórias pessoais, brigas e cada forçada de barra que trazia algum desses elementos para o filme, sem ter uma base de necessidade, me deixava puto da vida. Isso é um erro primário, porque óbvio que ia terminar forçando a barra e tornando a obra ridícula. Na verdade, o filme já inicia forçando a barra com aquela cena na praia e o bonitão cantando 'Girl' para câmera. Pela primeira vez na minha vida, preferiria não ser beatlemaníaco, porque pelo menos não entenderia metade das referências, metade das piadas, o filme ficaria num não entendimento imenso e me pouparia dos 'putz, que merda', 'putz, que piada forçada', 'putz, mata a música' que eu soltava a cada 30 segundos. Foi meio torturante a sessão.

E o que dizer quando a Prudence entra pela janela e a Sadie pergunta 'quem é essa?' e o Max responde 'She came in through the bathroom window'? O filme é todo nessa linha. Dr. Robert (Bono do U2 se passando), Rita, Mr. Kite, Jojo e vários outros personagens de canções terminam surgindo na 'aventura', sem contar as referências a outros artistas da época, como a Sadie Janis Joplin com um Jack Daniels na mão namorando o Jimi seu Jorge Hendrix. É meio patético. Chega dá vergonha das pessoas enxergarem aquilo tudo como uma inspiração provinda da obra dos Beatles. Acho que só dei risada com o filme, sem ser do filme, quando passou uma pomba gira, lá no fundo, durante uma cena musical (se bem me lembro foi em Come Together). Tão nonsense, mas adorei. Se bem que eu não estava nem rindo da pseudo noção de psicodelia, nem dos atores, o que seria bem possível, principalmente quando eles faziam uma expressão de sacada esperta a cada piada cretina que contavam. Desejo que ninguém conheça os Beatles por esse filme. Seria uma Bad trip total.

Um comentário:

Venus in Furs disse...

Eu sempre torço o nariz pra esses filmes sobre/baseados em (mensagem subliminar) músicos/bandas/discos. Com a exceção de The Wall e Piaf (que eu mudaria algumas coisas, mas no geral achei muito bom e chorei litros - coisa que quase nunca MESMO acontece), todos os outros eu achei muuuuito ruins. E "Across the universe" eu já tava ligada desde sempre que era tosco. A começar pela escolha do título: eu odeio essa música.

Ok, eu não amo Beatles e pronto (tô até nessa comunidade no Orkut), mas até me disporia a ver um filme baseado na obra deles se acreditasse que era legal. Mas esse daí, desde o ínicio, não me apeteceu.

E, quando todo mundo veio me dizer que era uma merda, eu tive o imenso prazer de dar um sorrisinho sarcástico com ares de "eu já sabia".

Obs: O meu ego ainda me mata.
Obs 2: Na semana passada, uma pessoa me disse que, se eu quisesse me suicidar, era só pular do meu ego. HAHAHAHAHAHAHAH
Obs 3: Vou postar uma diálogo abaixo, que não tem nada a ver com o post, mas que tu precisa ler:

Blues says:
adorei o cabelo
Blues says:
teu cabelo e o vestidinho de tati
Venus in Furs says:
uhuuuu
Blues says:
aliás, tati tem arrasado nas festinhas
Venus in Furs says:
obrigada, darling
Venus in Furs says:
vc viu o MEU vestido?
Blues says:
não consigo te enxergar vestida, não tem jeito!
Venus in Furs says:
me-do
Blues says:
brincadeira, é que tua expressão blasé de "sei que estou linda" ativou instantaneamente o meu botão do orgulho (que chamo carinhosamente de "foda-se") e aí eu só pude scannear tati
Blues says:
mas não fique chateada. nós somos apenas vítimas de nossa própria auto-estima e, no fundo, no fundo, a culpa será sempre dos nossos pais


HAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAH

Obs 4: Rodrigo, foi massa te reencontrar naquele dia no Cine PE. Tive altas lembranças do começo da faculdade, quando a gente só fazia encher a cara e ser feliz.