domingo, 13 de novembro de 2011

[projetotorresgemeas]

[projetotorresgemeas] from [projetotorresgemeas] on Vimeo.

Mesmo que renda noites a fio de conversas pelo telefone, não vou me prolongar no assunto porque já escrevi sobre ele e continuo acreditando nas palavras anteriores, acreditando mais ou menos na verdade, de modo que só queria fazer uma breve ressalva sobre o lançamento do [projetotorresgemeas], especialmente tomando como referência o debate que se alastrou pelos cinemas e pela internet a partir do curta realizado independentemente por cerca de sessenta colaboradores (entre eles, eu o/). Sinto que, de maneira geral, as pessoas estão do mesmo lado da luta e criticam a construção desumanizada de edifícios, anotando os efeitos ampliados na vida coletiva nos últimos dez anos, como o trânsito permanente, a falta de investimentos em transportes públicos, o não apoio aos meios alternativos ou mesmo a poluição do Rio Capibaribe. No entanto, muitas vacilam em suas justificativas, batendo repetidas vezes em razões equivocadas, transformando soluções cinematográficas contundentes em argumentos trôpegos. O que está em jogo não é um processo de demonização dos prédios, apropriando-se da hipócrita lógica "quem vive em casa é bom, quem vive em edifício é lobo mau". Ok, pessoal, bem menos. Sem dúvida, o debate principal reside num olhar sobre a reorganização espacial, padronizada e sem resquícios de criatividade alguma, a princípio uma discussão estética que, claro, não deixa de ser profundamente política, pois atravessa o imenso risco em aceitar um projeto de desenvolvimento da cidade ditado pelos interesses comerciais das grandes construtoras (sob o aval da Prefeitura e total supressão da lei dos doze bairros sancionada em 2001). O fato é que Recife está se transformando em um simulacro de cidade, sempre empurrando as classes mais baixas "para outro lugar" ("Gentrification"), capitalizando cada metro quadrado no mercado imobiliário, dando corpo ao paradoxo onde a fileta básica de caráter público deixa de ser condição do espaço urbano, o que gera uma desmobilização da convivência compartilhada e uma cultura de shopping contaminada em todos os patamares da vida social. Cada vez mais, como é muito bem representado em Praça Walt Disney, de Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro, espaços privados, imbuídos da segurança do lar e do isolacionismo burguês, emulam espaços públicos em seus parquinhos, quadras, academias e piscinas particulares. Todos os sessenta indivíduos que participaram do [projetotorresgemeas] se mostraram inquietos com a situação, queriam protestar, revelar o nível problemático que atingimos, de tal modo que o filme funciona - para além das dissonâncias internas - como um manifesto que marca o fim da melancolia e da nostalgia enquanto pontos de fuga do cinema pernambucano, um cinema que me parece andar cada vez menos de ônibus, assumindo um tom acima para reafirmar sua militância cidadã diante da paisagem arquitetônica da cidade. Lamentar para sempre não nos levaria a lugar algum.

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